A Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) deflagrou na última terça-feira (04/12) uma operação para demolir construções à beira do lago situado no município de Três Ranchos, medida que afeta condomínios e chácaras. O Prefeito Hugo Deleon de Carvalho e equipes do executivo municipal se juntaram a moradores para protestar contra a ação da empresa de energia. Manifestantes fizeram barreira para conter o avanço das máquinas e sob gritos de “fora CEMIG” permaneceram no local até que o trabalho parasse. Condomínio chamado “14 Bis” foi o mais afetado, onde cerca de 12 famílias ficaram desabrigadas. Outras propriedades mais ainda estão na lista.
Após a interrupção nas demolições, Hugo Deleon e sua equipe se reuniram com moradores e membros da Câmara Municipal para tratar do segmento do caso. O Prefeito informou que na terça-feira foi protocolado um ofício junto à CEMIG propondo uma audiência pública para que o impasse seja debatido. Emocionado, ele disse que está em busca de apoio político junto a deputados em Goiânia, Brasília e Minas Gerais e pediu também mobilização da população local e municípios vizinhos. “Não podemos assistir tudo isso de braços cruzados, precisamos reunir forças, pois essa medida tem um impacto negativo muito grande na nossa cidade, muitas famílias dependem desses imóveis tanto para moradia quanto para obter renda através dos empregos que eles geram”, destacou.
As demolições são provenientes de ações judiciais que a Cemig moveu contra proprietários de imóveis localizados às margens do lago. A companhia energética alega que as construções ultrapassam as demarcações da chamada “cota de desapropriação”, invadindo assim o reservatório. Em entrevista, Héber da Silva, morador e caseiro de uma chácara na beira do lago há cerca de 22 anos, disse que as máquinas chegaram sem aviso e começaram a demolição, obrigando as pessoas a retirar pertences e móveis às pressas. Imagens feitas por jornalistas no local mostram casas totalmente destruídas. Além do prejuízo financeiro o fato também traz insegurança para a comunidade local com relação ao turismo. “A gente teme pelo sustento das nossas famílias, Três Ranchos depende do turismo e nós não sabemos como isso vai afetar os investimentos feitos aqui, pode ser muito ruim”, destacou Héber.
Durante as demolições no condomínio 14 Bis um advogado da CEMIG permaneceu no local, mas declarou que não poderia passar nenhuma informação por não ter sido autorizado pela empresa. No entanto, Vinícius Calaça Soares, vereador do município conhecido como “Calacinha”, disse que conversou com o assessor jurídico e foi informado de que a companhia está sofrendo uma ação do Ministério Público Federal (MPF) para regularizar a situação das construções, que estão infringindo normas de conservação do meio ambiente. O parlamentar sugeriu que a CEMIG abrisse uma negociação para que os proprietários acionados na justiça pagassem pelos terrenos considerados invadidos como forma de indenização, mas teria sido informado de que “o interesse público é superior ao interesse particular”.
Moradora do local, Dona Evanberta Pereira da Silva, contesta o empenho da companhia em atender demandas de conservação ambiental. Ela alega que na chácara onde trabalha os proprietários estão tentando há vários anos, sem sucesso, fazer com que a CEMIG promova um trabalho de reflorestamento. Trabalhando como caseira há cerca de 20 anos no local, ela demonstra também preocupação com outros residentes. “Atualmente esses condomínios empregam mais de 300 famílias e nós não sabemos ao certo o que isso pode acarretar daqui pra frente. Só meus patrões terão um prejuízo de quase R$ 250 mil com a demolição de um guarda-barcos que eles tem em sua chácara”, destacou.
Hugo Deleon também justifica o apelo da população com base na questão ambiental. Durante reunião no paço municipal, ele alegou que sua equipe está estudando medidas jurídicas cabíveis para se buscar uma alternativa que não seja a destruição dos imóveis. Segundo o prefeito, um dos fatos é que a CEMIG não possui licença e está descartando incorretamente os entulhos gerados pelas demolições, causando poluição no local. “Vamos bater em cima dessa questão, buscar ações populares, embargos e mandados de segurança”, declarou. Ele disse ainda que acha a iniciativa extrema e que a comunidade local está aberta ao diálogo para encontrar alternativa. “Essa ação é danosa, precisamos de uma solução melhor. Na época das construções não se tinha informação nenhuma sobre as normas e sabemos que as propriedades não degradam o lago, todas tem muros de arrimo e vegetação”, disse Hugo.