Governador eleito nega que demora em revelar nomes da equipe de auxiliares tenha a ver com pressão; “Estou tendo zero de pressão. Não é este o caso”, salienta o democrata

Determinado a deixar a definição da equipe para depois do fim dos trabalhos da transição, o governador eleito Ronaldo Caiado (DEM) diz que já tem em mente 60% dos nomes para os principais cargos de sua gestão. Embora mantenha conversas e sondagens com muitos possíveis auxiliares, ele revela ter feito apenas um convite, sem sucesso, à número dois do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi. O democrata, que viajará para a Inglaterra esta semana e só retorna no dia 1º de dezembro, falou ao O POPULAR sobre as primeiras informações acerca da situação do Estado e a busca por ajuda do governo federal.
Já convidou alguém para o secretariado?
Eu conversei com a Ana Paula Vescovi, secretária-executiva do Ministério da Fazenda, mas ela disse que tinha questões familiares a resolver e poderia passar um tempo no exterior. Isso já tem um tempo. Agora, ela já teve convite do Banco Mundial e também é cotada para a Caixa Econômica Federal, segundo sinaliza o ministro Paulo Guedes. Então, foi algo descartado.
Toda pessoa com quem converso surge esse tipo de especulação. É o mesmo caso da Ana Carla Abrão (economista e ex-secretária da Fazenda de Goiás). Estou buscando contato com referências de cada setor. Não temos três anapolinos em destaque nacional agora (referência aos três governadores eleitos: ele próprio, Antônio Denarium (PSL), de Roraima, e Mauro Mendes (DEM), do Mato Grosso)? Ela (Ludhmila) é mais uma. É um Papa da área médica, uma grande referência na cardiologia. A gestão do Incor é outra depois dela. Fez uma revolução. Então, busco esses contatos para definição de estratégias para o futuro governo. E ela é minha amiga de muitos anos, sou amigo do pai dela. Assim como converso também com a Ana Carla frequentemente sobre questão fiscal. É uma cabeça nesta área.
Praticamente todos os demais governadores eleitos já anunciaram nomes para o secretariado. E o sr. ainda não?
Estou conversando, analisando e aguardando o diagnóstico do Estado. Há casos de outros governos em que a transição é mais fácil. São governadores eleitos que não estão pegando a mesma estrutura de poder. Nós queremos implantar um novo sistema de governo, completamente diferente, que não é de continuidade. Especialmente das práticas do governo. Então, é uma transição importante. Conforme o diagnóstico, vou identificando as pessoas que têm melhores condições de enfrentar os problemas de cada área.
Mas já tem nomes em mente?
Para as funções principais, digamos que já tenho 60% na minha cabeça.
E não quer anunciar nem um nome, por quê? É para evitar pressões?
Não, não. Estou tendo zero de pressão. Não é este o caso. É que considero que quanto mais tempo, mais oportunidade se tem de fazer boas escolhas. É como se você comprasse um vestido bonito e andasse um pouco mais e achasse em outra loja um mais bonito ainda, até com preço menor. Estou escutando muito, sendo cuidadoso na escolha.
Não há o risco de chegar em janeiro e a maioria do secretariado precisar de um mês ou mais para tomar pé da situação, ter conhecimento da pasta e só depois conseguir definir os primeiros passos? Não poderiam fazer isso desde já?
Mas eles todos vão receber as informações do trabalho que a equipe de transição está realizando. Cada um receberá um resumo com informações conclusivas sobre cada área.
Então pretende anunciar todos os nomes de uma vez?
Não necessariamente de uma vez. Posso ir anunciando aos poucos, mas só em dezembro.
Desses 60% que tem em mente, a maioria é de fora ou daqui?
Não tenho essa preocupação. Isso não é critério. Quando eu busco um médico para o meu filho não pergunto a naturalidade. Quero nomes com competência, que atendam as demandas e que tenham sintonia com o governador. Não vou observar se é de fora ou daqui.
A proposta de acabar com a estabilidade do servidor, feita pelos governadores ao presidente eleito Jair Bolsonaro, gerou polêmica. O sr. concorda com mudanças nesse sentido?
Não é bem acabar com estabilidade. É uma questão de definir mais claramente critérios para implantar a meritocracia. Temos de ter parâmetros. Armínio Fraga e Ana Carla Abrão estão trabalhando com uma metodologia mais sofisticada nesse sentido. Um servidor tem nota 10 e os demais têm notas baixas. É isso que precisa ser visto.
O sr. defendeu a possibilidade de mudar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Esse é o melhor caminho para enfrentar as dificuldades financeiras?
Fizemos a proposta de mudança ainda que seja temporária. E também estamos buscando acordo com empresários para a reinserção dos incentivos. Estamos apresentando as propostas e aguardando contrapropostas, outras alternativas.
Qual sua agenda antes de viajar à Inglaterra?
Será basicamente ficar no pé do ministro da Economia (Paulo Guedes) para buscar as possibilidades de melhoria do cenário. Eu não tenho aval do Tesouro para pegar empréstimos, não tenho limites para empréstimo, não tenho onde arrecadar - já aumentaram tudo que podiam -, vou pegar uma folha e meia de atraso, terei de bancar R$ 1,8 bilhão (de folha) no dia 10 de janeiro, os pagamentos de organizações sociais da saúde estão atrasados, de tornozeleiras vocês deram ontem que também estão em atraso, programas sociais em atraso. As alternativas são poucas.
Concessões e privatizações estão em debate na transição?
Tudo que estava na pauta do atual governo eu vou rever. E não acredito que haverá mais iniciativas nesse sentido ainda neste governo. Nenhum governo faz gesto para decisões assim nos últimos meses.
O governo decidiu renovar contratos com OSs da saúde, com impacto de mais de R$ 600 milhões. Vai mantê-los?
Se isso foi feito porque os contratos venceram e era preciso renovar para manter a prestação de serviço à população, aí é normal, é até uma obrigação. Não pode deixar sem atendimento. Uma das OSs pediu rompimento do contrato e não sei o que o governo fará em relação a isso. O governador me ligou e falamos apenas sobre a MP do saneamento, que não deixamos votar e caducou, e do projeto dos incentivos, que ele disse que encaminharia à Assembleia. Solicitamos todos os dados sobre isso e vamos avaliar.
Já há definições sobre a posse? Há informação de que a de transmissão da faixa, no Palácio das Esmeraldas, não é obrigatória no rito formal.
Vou manter toda a liturgia. Não pretendo alterar nenhuma linha do ritual que vem sendo feito nos últimos anos. Será pela manhã, com a cerimônia na Assembleia e depois no Palácio. Temos de fazer a tempo da posse do presidente eleito Jair Bolsonaro, mas Brasília é muito próxima e acho que haverá tempo suficiente. (Fonte: O Popular - 17.11.2018)